terça-feira, 15 de julho de 2008

Mãe - Jandyra Adami Neves de Carvalho

MÃE
Jandyra Adami Neves de Carvalho


Estou vagando pelo apartamento, sem saber ao certo o que fazer. Faz hoje um ano que para cá mudamos. Foi um dia de alegria e realizações: havíamos conseguido um apartamento de cobertura. Éramos felizes. Mas, hoje, vejo que a alegria era a sua presença. Mesmo nos momentos de discordância, a sua personalidade era marcante.
Hoje, um ano passado, estamos tristes. somos três unidos e três solitários. É a "solidão povoada". Os amigos continuam fiéis. Não se esquecem de você. Mas, há uns que não aceitam ver-nos sem a senhora. Por toda vida nós duas vivemos juntas. Depois veio Antonio e, em seguida, o Junior. Eles se acostumaram com o "quarteto".
Está se aproximando o "Dia das Mães". Sei que vai ser outro dia de "sufoco", de lembranças e lágrimas. Mas as orações nos porão em contacto com a realidade e a gente irá percebendo que a senhora está num plano bem superior ao nosso, onde não há "angustia nem sofrimento".
Vai fazer nove meses que a senhora partiu. Foi o mais triste golpe de minha vida. Eu, que pedia tanto a Deus para ser a primeira... Mas suas orações foram mais bem recebidas, pois a senhora morreu exatamente como pediu a Deus e ao Papa. Foi como o apagar de uma luz, morrer no palco, trabalhando. A senhora morreu fazendo o que sempre gostou: cozinhando. Cozinhando aquilo que comeríamos após o seu funeral. Parece até ironia.

Já pensou Mãe, a senhora com angina, num leito de hospital ou mesmo aqui em casa? Seria horrível. Já pensou, Mãe, a senhora perder um filho ou neto, seres do seu ser, sangue do seu sangue? Seria doloroso. Pensando nisso, a gente chega a agradecer a Deus a maneira como a levou de nós.

O seu quarto continua arrumadinho, conforme a senhora fazia questão: o tapete bem limpo, a máquina de costura com a jarra de flor, o "closet" com suas imagens de santos e remédios seus; a cama com uma colcha bem bonita, a almofada que a senhora fez. É como se estivéssemos esperando a sua volta. No dia 18 de Novembro de 1980, quando a senhora completaria 68 anos, coloquei em sua cama uma rosa, que permanecerá em seu lugar, até que eu vá me encontrar contigo.

Uma rosa. A coisa mais singela que coloquei em sua cama, com todo o amor para que, ao vê-la, todos se lembrem: "Ali repousou uma grande mulher". E acredite: seu lugar em nosso lar é sagrado. Seu quarto jamais será desfeito. A senhora faz parte de nossas vidas.

Nenhum comentário: