domingo, 28 de outubro de 2007

Teclado




Teclado
Juçara Medeiros Lasmar

Entre vírgulas e acentos
dois pontos foram dançar
o colchete enamorou-se
do parentesis mas a crase
com ciúmes
foi logo dialogar
o travessão e o til
desandaram a fofocar.

A trema toda faceira
por ser rara nesta festa
interrogou o parágrafo
se o sifão era rico
se dava margens
pra aspas
ou então pro asterisco
se a barra estava limpa
ou se era mais ou menos.

Reticência como sempre
na dúvida continuou
o acento de chapéu
com um grito agudo falou
nesta festa só não entra
quem o teclado emperrou.

O ponto parou aqui
e tudo finalizou.

sábado, 27 de outubro de 2007

Mulher

Mulher

Juçara Medeiros Lasmar

Sou fada sou bruxa, faço magias.
Duplico o amor, acalanto o ódio
faço poesias.

Sou fera defendendo a cria.
Sou dragoa no cio
mordo, acaricio
depende do momento.

Sei parir e amamentar
sei amar.
Acalento.

Dentro de mim
vibram todos os sentimentos
às vezes em conflito.

Tenho a força dos escravos
e a ternura dos bebês.

Sou fêmea, Mulher.

Tempos Modernos

Tempos Modernos
juçara medeiros lasmar

Vestiu de manhã
para ao trabalho
terno e gravata
exigência do cargo.

Beijou a esposa
com o filho o colo
olhou a filhinha
dormindo no berço
entrou em seu carro
e foi trabalhar.

Deixou sua casa
barbeado, penteado
de banho tomado
até perfumado.

Foi devolvido
pelado
dentro de um saco
preto
com um buraco
no peito.







juçara mederios lasmar


O sol vai alto no correr do dia,
O céu azul com nuvens passageiras,
Lembro de tudo com muita alegria,
Das belezas desta terra mineira.

E a noite cobre com seu manto
De luar, a envolver montanhas...
Na procissão do dia de seu santo,
Nada é igual a esta fé tamanha.

Pelos caminhos floridos desta terra,
Sinto a vibrar dentro de mim um som
E caminho, em paz e alegria...

Subindo montanhas e serras
A cantar, todos estão, no mesmo tom,
Com a fé que aquece nossos dias...

09/11/2000


Quero te encontrar

Quero te encontrar...
Juçara Medeiros Lasmar

Quero te encontrar nas brancas nuvens
do céu azul no infinito além
nos mares profundos
nas areias quentes do deserto
nas verdes matas
no sinuoso rio
e nas montanhas ecoar meu grito
de amor
que será ouvido pelas estalactites e estalagmites
guardiãs do tempo
e atingirá o brilho gélido das estrelas.

Quero te encontrar no fundo dos teus olhos
a refletir os meus!

Juçara Medeiros Lasmar
13/02/02

Fantasia

Fantasia
juçara medeiros lasmar

Pingos esparsos começam a cair apesar do sol ainda brilhar. Pouco a pouco a chuva aumenta refrescando nossos corpos encalorados da caminhada. A chuva molha a terra e odor entra em nossas narinas. Eu aspiro profundamente o cheiro de terra molhada. A água escorre pelo meu rosto, seu rosto. A grama macia é um convite a descansarmos. Nossas roupas molhadas, coladas aos corpos que ardem e se inflamam apesar da chuva. Minha língua lambe a água de seus lábios à procura da sua e nos juntamos num frenesi de pernas, braços e abraços. Rolamos na grama molhada, sentimos o cheiro da terra, nos tornamos barro. Nosso prazer se confunde com o barulho da chuva que se intensifica até explodir num trovão.
04/08/02
10h22

O SUICIDA

O SUICIDA




Bela paisagem era vista
Do alto do edifício.
A linda cidade a lembrar-me
Uma vida mal vivida...
Olhei ao redor, um último olhar
Para tudo, última lembrança desta vida triste...
Atiro-me no nada, penso em tudo:
E os amigos? Haviam alguns...
Arrependo-me, olho o asfalto
Abaixo de mim, dou um sorriso.
Tarde demais!




Juçara Medeiros Lasmar

O Beijo



O Beijo

Teca Miranda



A interrogação está na boca,

salta do olhar ambivalente

deixando a cabeça tonta e ôca

num apelo que se faz exigente


No olhar cintilam exclamações,

não há como controlar o desejo

de fazer das vontades ações

se é só os seus lábios que vejo.


Uma reticência prolonga o delírio,

decisão que ao apetite obedece

acabando então com o martírio

dessa paixão que entontece.


Ponto final na dúvida estéril.




domingo, 14 de outubro de 2007

Poesia na pele




Poesia na pele

TecaMiranda


O verso clama abafado...

preso na porta de entrada,

sentindo o olhar abismado

corre e escapa em lufadas.


Adorna-se de todo amor,


essa emotiva e doce loucura


que por vezes causa amargor


a quem busca essa ventura.



Liberto pela colorida fantasia


na poesia é então acolhido,

lançado ao léu pela ventania


no coração busca o sentido...




sábado, 13 de outubro de 2007

NOSTALGIA

NOSTALGIA

Juçara Medeiros Lasmar


Nuvens de sombra que cobrem estrelas,

Estrelas de sonho de um tempo feliz...

Alguém que partiu, um amor que perdeu-se,

Perdeu-se nas trevas por quem não o quis!

Nunca mais viveu, nunca mais sorriu,

Deixou de sofrer, deixou de chorar...

Partiu pra bem longe, perdeu-se no tempo,

Não é mais feliz, deixou de amar!

Trazidos pela brisa ao sabor do vento,

Os ecos distantes vindos do além...

Acabou a esperança, não sente saudades,

De onde veio, será ele quem?

E as nuvens choram em gotas de chuva,

E o fogo gargalha ardendo, queimando...

O sonho se foi apagando lembranças,

As estrelas partiram esquecidas, chorando!

Restaram as cinzas de uma ilusão,

Nada mais ficou, nenhuma alegria...

Apenas fumaça perdendo no espaço,

Trazendo consigo só a nostalgia!

Minhas Irmãs

Minhas Irmãs

Como eram bonitas em seus vestidos rodados, estampados, godês, com laços na cintura e grandes decotes. Os cabelos presos com fitas, lindas fitas que me encantavam. Saiam perfumadas, usavam Promesa ou Madeira do Oriente, aquele perfume cujo vidro vinha com dois pauzinhos dentro, da própria madeira. Batons rosados, dentes brancos, unhas também rosadas e rouge, algum rouge para ficarem coradas. Nos bailes, ao dançar, seus vestidos esvoaçavam. Eu, por volta dos sete anos, me encantava com tanta beleza, tudo que queria era imitá-las, ser como elas quando crescesse. Os namorados também me encantavam, me mimavam, compravam bexigas coloridas e me presenteavam com diademas e bolsinhas. Eram belos, elegantes, distintos. As três eram diferentes mas muitas pessoas pensavam que duas fossem gêmeas, mesmo uma delas tendo olhos verdes e ser mais alta. A primeira mais baixinha, não tinha tanto glamour, sempre foi calma e pacata, pele muito clara e cabelos castanhos, de uma beleza suave, minha querida Dindinha. A segunda, considerada a mais bela por todos da região, olhos e cabelos escuros, como eu. Hoje, quando olho as fotografias vejo que somos quase iguais, com dez anos de diferença. Ela costurava e bordava como ninguém, seus vestidos eram um primor; lembro de uma saia godê, preta com bordados coloridos. Hoje ao folhear uma revista de moda vejo algumas bem parecidas. Tudo é um eterno retorno e uma doce saudade. A última das três, alta, magra, de olhos verdes e cabelos anelados, unhas imensas. Tenho inveja de seus olhos até hoje. Eu, aos sete anos queria ser igual a elas, crescer logo, ter quinze, dezessete, dezenove... Namorar, dançar, ser cortejada por rapazes elegantes, casar... Como o tempo era lento. Minhas três irmãs mais velhas, meus modelos.

Quando me tornei mocinha não se usava mais aqueles deliciosos vestidos rodados; era a vez da mini-saia, da contestação, do feminismo... O tempo agora passa muito depressa, sete, dez, doze anos, não fazem nenhuma diferença. As três jovens irmãs e a criança que as admirava são quatro mulheres maduras.

Juçara Medeiros Lasmar

25/09/04

Essa tal de Felicidade





Essa Tal de Felicidade
Margot de Freitas Santos

O quê é essa tal de felicidade?
Que a humanidade vive a procurar.
É preciso ternura e sensibilidade
Para saber, sentir e finalmente encontrar?

Dizem que a felicidade está na simplicidade,
Num pequeno afago, na lua a brilhar,
No sorriso maroto, numa grande saudade,
Numa lágrima oculta querendo se revelar.

Desejando encontrar essa tal felicidade,
Olhos de lince, sorrateira, parei.
... E quando você surgiu, ternura emanou no ar.
Você é a tal felicidade que eu estava a buscar!

29/09/2007

sábado, 6 de outubro de 2007

Vida de Muié

Vida de Muié
Juçara Medeiros Lasmar


Vida de muié é besta
Ah como é besta esta vida de muié
vive agradando os otros
mesmo si num quisé
agrada pai
marido
fio


Güenta chero de chulé
deita no colo
faz cafuné
ô vida isquisita
esta vida de muié.


É ronco de home gordo
é catinga de suvaco
é trabaio e mais trabaio
é fios enchendo o saco
que ela nem tem.


Um dia ela vai cansá
vesti um vistido roxo
e se mandá
argum malandro
vai encontrá
e de novo
tudo começá.


Mas que vida besta sô
essa vida de muié.
Agora se tem um home
dando um chero em seu cangote
isso é bão dimais até!


02/03/02

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Liberdade

Liberdade


Duas aves azuis, plumas tão belas!

Voavam livres pelo firmamento,

pareciam pinturas de aquarelas,

tamanha suavidade e encantamento.


Pairavam alegres ao sabor do vento,

paralelas no céu, sempre juntinhas!

Pareciam ter feito um juramento:

Em tempo algum, jamais, voar sozinhas...


Mas, eis que belo dia estavam presas,

uma voava à frente, outra em seguida,

e começaram assim as incertezas...


A liberdade é mesmo um vôo planado,

o que faz mais sentido em nossa vida

é que estejamos sempre lado a lado.


Cônsoli – 14-09-2003